18.12.2017

Guia no Campo de Concentração de Dachau

Ir. M. Elinor Grimm, Alemanha

Ir. M. Elinor Grimm atua, há 8 anos, como guia no Campo de Concentração de Dachau. Anualmente, este memorial é visitado por cerca de 800 mil pessoas, vindas do mundo inteiro. Esse lugar tem uma grande importância para o Movimento Apostólico de Schoenstatt, pois, o fundador, Padre José Kentenich, esteve ai como prisioneiro n° 29.392, de 1942 a1945. Sob perigo de vida ele ousou muito: compôs orações, deu palestras religiosas para os demais prisioneiros e, secretamente fundou duas novas comunidades, em 16 de julho de 1942, ampliando assim a Obra Internacional de Schoenstatt.

Dada a importância desse local em nossa história, entrevistamos Ir. M. Elinor, sobre as suas experiências como guia.

Redação: Ir. M. Elinor, como você se tornou guia no Campo de concentração de Dachau?

É uma interessante história. Na verdade, foi o Padre Kentenich mesmo que cuidou disso. Em 2005, eu me empenhei,  a fim de que uma foto do Pe. Kentenich, que estava em uma das salas reformadas, fosse colocada na nova sala de exposições. A imagem da MTA já se encontrava ali. Quando nos dirigimos à administração do memorial com este pedido, ficamos sabendo da possibilidade de um Curso para guias. No dia 15 de setembro de 2008, abriu-se então uma porta pra mim. Vejo como um presente o fato disso ter sido justamente no dia da morte de nosso Fundador. O sentido da minha atuação como guia em Dachau é ele e sua missão. Após 2014, decidiu-se que somente guias licenciados podem conduzir grupos em suas visitas ao Campo, por isso, eu me alegro que agora também uma senhora do Instituto das Senhoras de Schoenstatt pode participar de um curso de formação para isso.

Redação: Que tipos de grupos você guia em suas visitas a Dachau?

A maioria são jovens, grupos de escolas. É interessante o modo como eles reagem diante da ‘Irmã’. Eu admiro que posso fazer experiências positivas neste sentido, também no que se refere ao trabalho em conjunto com os outros guias e com os funcionários que ali atuam.

É algo especial e desafiador quando guiar grupos de Schoenstatt e seguir com eles os vestígios de nosso Fundador. O ponto culminante foi o ano jubilar de 2014, pois vieram muitos grupos de Schoenstatt do exterior para Dachau. Nesse ano, o grupo que mais me impressionou foi o da Juventude Masculina de Schoenstatt, da América do Sul.

Neste ano, eu conduzi dois grupos alemães, da Juventude Masculina de Schoenstatt. Em outubro, também estiveram em Dachau, percorrendo os vestígios do Padre Kentenich, cerca de trinta jovens da Juventude Feminina de Schoenstatt, da diocese de Münster. Na manhã daquele dia, houve um forte vendaval, assim que, quando estávamos ao ar livre, quase  não se podia compreender nenhuma palavra. Apesar disso, o dia foi para elas um encontro com o nosso Fundador.

No dia 31 de outubro, vieram ao Campo um grupo de mais quarenta homens – ouvintes totalmente atenciosos – que pertencem a comunidade paroquial de Marienfried/Pfaffenhofen, com o seu Pároco, o vigário e um diácono. Poucos dias antes, participei pela primeira vez de um seminário sobre o tema “Cultura da recordação – o que isso tem a ver comigo?”. Fiquei muito grata que os estudantes estavam bem interessados e que o professor me ajudou nesse tema tão abrangente.

Redação: O que os visitantes levam? Eles retornam do Campo diferentes do que quando chegaram?

Isto é difícil de responder. Creio que seja diferente para cada um. Eu vivencio pessoas que se chegam pensativas ou que, percorrendo o Campo se tornam pensativas. Muitos visitantes também aparentam estar aí somente como turistas. A maioria dos alunos vem porque é obrigação, ou seja, porque faz parte do currículo escolar. Mas, em outros percebe-se um verdadeiro interesse. Às vezes surge a pergunta, por ex.: “Como isso pode ter acontecido?”

Os grupos de Schoenstatt são muito abertos, sobretudo os do estrangeiro. Por exemplo, as jovens do Projeto ‘Schönstattzeit’ assimilam muitas coisas da vida do Padre Kentenich. A visita no Campo de Concentração é para elas um encontro com a pessoa do Fundador. Aqui muitas renovam ou aprofundam sua Aliança de Amor.

Redação: O que mais a impressiona quando você pensa na prisão do Pe. Kentenich em Dachau?

Acontece comigo algo semelhante como com o sacerdote schoenstattiano, padre Heinz Dresbach, companheiro de prisão do Padre Kentenich. Ele sempre se impressionava com a imensa calma e serenidade do Padre Kentenich. Ele admirava a sua capacidade de ouvir e os muitos contatos que o Padre Kentenich mantinha com os prisioneiros, além dos sacerdotes. Por meio do convívio com o Padre Kentenich – Padre Dresbach era um dos três escritores secretos, de nosso Fundador – o ‘inferno de Dachau’ tornou-se para ele “um céu”. Anos mais tarde, ele mesmo se tornou guia de grupos em Dachau. Há um CD sobre isso, com o título: “Sob a proteção de Maria no Campo de Concentração de Dachau”.

Impressiona-me também a quantidade de textos que o Padre Kentenich ditou em meio a esta atmosfera. Basta recordar o conteúdo do “Hino da minha terra” do “Rumo ao Céu”, livro de orações que ele escreveu durante sua prisão em Dachau, em pleno contraste àquilo que ele diariamente vivenciou no Campo. Ele escreveu também versos em que, entre outros, ele agradecia pelos pacotes de alimentos. E não por último, é surpreendente que, em meio a esta situação, Padre Kentenich fundou duas novas comunidades de Schoenstatt.

Redação: Quais foram os pontos culminantes de seu trabalho neste ano de 2017?

Um ponto culminante foi, sem dúvidas, o 16 de julho: a celebração dos 75 anos de fundação do Instituto de Famílias e dos Irmãos de Maria. Eu  fiz parte da equipe de preparação e fui a responsável pela organização. O trabalho em conjunto, com os responsáveis pelas instâncias do Campo de Dachau, foi marcado pela benevolência. Eu me alegrei especialmente, que o diretor da Fundação do Memorial de Dachau participou desta celebração e fez o discurso de boas vindas.

Outras datas importantes foram o 11 de março, dia em que o Padre Kentenich chegou, há 75 anos, em um transporte para Dachau. Para este dia, a União Apostólica Feminina  de Schoenstatt editou um belo livreto com as celebrações e configurou a santa missa. No dia 3 de setembro, recordamos os 75 anos da morte do Padre Alberto Eise. Ele fez parte da geração fundadora de Schoenstatt, falecendo em 1942, vítima da fome e da disenteria. Nos dois dias houve, na parte da manhã, uma visita com reflexões sobre estes acontecimentos e, à tarde, houve programas alternativos. A União das Mães de Schoenstatt preparou uma adoração eucarística, para a celebração do Padre Eise. Padre Hinsen, Padres Palotinos, celebrou a  santa missa. Em outubro veio um ônibus de Öffingen, comunidade natal do Padre Eise e estavam presentes também o Pároco.

Um encontro especialmente intensivo, foi em 7 de outubro, com um curso da União das Famílias de Schoenstatt, pois muitos estavam aí pela primeira vez e trouxeram juntos pedras, que simbolizavam as suas experiências de sofrimento.

Mais uma pequena vivência, que me alegrou muito, foi em agosto, quando fui guia em alemão, para a Ir. M. Lourdes e senhoras das Filipinas que vivem aqui na Alemanha. A Ir. M. Lourdes trabalha na Central dos Peregrinos em Schoenstatt e é responsável pelos romeiros de língua inglesa. Ela traduziu tudo para uma participante da Austrália, que não dominava a língua alemã. Na Austrália, esta senhora está muito vinculada ao Santuário. Quando regressei ao estacionamento, acabava de chegar um pequeno grupo de Irmãs da Índia. Espontaneamente fui ao encontro delas e as convidei para uma visita guiada. Três delas falavam perfeitamente alemão, pois trabalham há anos em um hospital, porém, a Superiora Provincial, para a qual elas desejavam mostrar Dachau, só falava inglês. Assim, foi um presente que a Ir. M. Lourdes estava aí e pode traduzir. Estas pequenas coincidências simplesmente me mostram que Deus conduz e está junto a mim nesse trabalho.

Nós lhe agradecemos pela entrevista, desejamos tudo de bom e que Deus continue a abençoar o seu trabalho!