Talvez você pense: o sofrimento – um presente? O que significa isso? Presentes, geralmente, são algo que valorizamos, que desejamos ou gostamos de aceitar. Nenhuma destas características se aplica ao sofrimento. Basta pensar nos sofrimentos, os quais encontramos no dia-a-dia: desilusões, dificuldades familiares, dores físicas e emocionais, sentimentos de culpa, confusão … Como tais coisas podem se tornar presentes?
O valor do sofrimento na redenção
A quaresma nos oferece muitas oportunidades, que lembram o valor do sofrimento na redenção. Irmã M. Emilie Engel, uma das primeiras irmãs da nossa comunidade, teve experiências maravilhosas a este respeito. Na sua infância e juventude, sofria temores e medo. Como irmã, adoeceu e ficou paralisada progressivamente. Foi ela, quem escreveu as seguintes palavras:
“O caminho que leva à ressurreição e à transfiguração passa pelo Gólgota. Desde que houve o pecado original, essa é uma lei no Reino de Deus. Constatamos esta verdade na vida de todas as grandes pessoas santas, na vida de todas as comunidades religiosas. Quanto maior a tarefa a elas confiada por Deus, tanto mais foram marcadas com a cruz e tiveram que seguir os passos do Redentor do mundo. Por isso, queremos interpretar o sofrimento, seja qual for, à luz da transfiguração, não como carga pesada, mas como penhor do amor e da fecundidade, como sinal da vitória e do triunfo.” (Emilie Engel, Wort für jeden Tag, 19º dia)
Sofrimento como uma promessa do amor
Estas palavras estão repletas de significação. Como pessoa que pessoalmente carregava o peso de muitas cruzes, ela nos encoraja a compreender o nosso sofrimento “como uma promessa de amor … um sinal de vitória”. Irmã M. Emilie sabia por experiência própria o que significa entrar na luta e agir de modo acertado. Assim como nós, ela sentia fortemente as fraquezas e limitações em sua vida. Mas guiada pela Aliança de Amor com a Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt e sob a condução do Padre Kentenich, teve a coragem de crer: O amor e a misericórdia de Deus são sempre maiores do que o sofrimento próprio.
A sua confiança em Deus tornou-se tão grande que obteve a graça de reconhecer o sofrimento como um presente, ardentemente desejado. Chegada ao mais alto grau de sua aspiração, ela rezou: “Por favor, querido Pai, envia-me toda a medida de amor e sofrimento, que previste para a tua filha.”
Abrir-se à condução da graça de Deus
Um breve trecho da sua Biografia relata:
“Emilie deixa-se guiar e conduzir pela graça de Deus, seguindo incondicionalmente seus caminhos. Em junho de 1940, completam-se treze anos de sua consagração. Como cada ano, prepara-se para a renovação de sua entrega. Não retira nada, pelo contrário, inclui tudo, especialmente o que lhe é mais difícil neste momento. Não só está disposta a assumir o sofrimento e a agradecer por ele, mas agora, como expressão de um amor maior, arrisca-se a implorá-lo expressamente. Pede aquilo que mais a oprime, a cruz de sua falta de liberdade interior e de suas aflições. Neste generoso Sim ao Pai do céu cresce para além de si mesma em direção à liberdade dos filhos de Deus.
À sua oração de consagração, Irmã Emilie acrescenta: ,Movida pelo mais profundo anelo filial de fazer aquilo que te dá mais alegria, ofereço-te hoje também, além da disponibilidade, o pedido do fundo da alma: Pai, se está nos teus planos, envia-me todo o sofrimento que previste para mim; se queres, deixa-me sofrer também a cruz da minha falta de liberdade interior e de minhas aflições até a minha morte, até que tua filha enferma retorne a ti na eterna liberdade e felicidade. Amém’
Em outubro de 1940, renova esta consagração. Em outra oração complementar expressa a disposição interior pela qual quer conduzir sua vida e seu atuar no futuro. Escreve detalhadamente o que lhe causa especial sofrimento e, em seguida, acrescenta: Sim, amém, Pai, eu te peço!” (M. Wolff, meu sim é para sempre, p.181s).
Qual é o segredo?
Talvez você pense: “Pois bem, Irmã M. Emilie está no caminho à santidade. Mal consigo sorrir quando vejo o sofrimento; e nem pensar em pedir algo assim!” Mesmo que ainda não possamos ser canonizados, somos convidados a aprender que o sofrimento pode ser visto como um presente.
Qual é o segredo desta atitude? Como Irmã M. Emilie chegou a este grau de santidade? Algo assim somente é possível por meio de uma vinculação profunda de amor a Deus. Passo por passo, ela se entregou ao amor de Deus e abriu-se para que Deus a pudesse introduzir profundamente na sua misericórdia. Seus pecados e suas limitações não foram impedimentos para o seu amor, mas a chave. Ela reconheceu que, se Deus permitiu o seu sofrimento, ela estava mais disposta a confiar nele e a se entregar aos seus desejos e à sua vontade. Por isso lhe pediu que, se for da sua vontade, ele poderia enviar sofrimentos para que ela pudesse estar bem perto do seu coração.
Anseio pelo sofrimento não se aprende de um dia para o outro. Mas o que podemos fazer é estarmos abertos para ver o nosso sofrimento numa luz diferente. Neste tempo de quaresma, peçamos à Irmã M. Emilie que ela nos ajude a valorizar o sofrimento da nossa vida como dádiva preciosa, como presente do amor misericordioso do Pai!
Oração
Querida Irmã M. Emilie, ajuda-me a crer firmemente no amor de Deus a mim. Quando cruz e sofrimento cruzam o meu caminho, ajuda-me a ver por detrás disso a vontade do Pai e a aproveitar o grande sofrimento para me aproximar dele. Gostaria de aprender, como tu, confiar em Deus – com confiança ilimitada e amor filial! Amém.
Oração pela canonização de Irmã M. Emilie Engel
Deus, nosso Pai, confiando filialmente em tua sábia e bondosa providência, Irmã Emilie trilhou o caminho de sua vida. Mesmo no sofrimento e na insegurança, ela pronunciou o “Sim Pai” aos teus desejos e à tua vontade. Desta forma, ela encontrou profundo abrigo em teu coração paternal, em meio a todos os temores e aflições. Nela manifestaste poderosamente o teu amor e misericórdia.
Eu te peço a canonização de Irmã Emilie para a tua glória, para a honra da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt e para a bênção da humanidade.
Por sua intercessão atende os meus pedidos, assim como corresponde a tua bondosa providência. Amém.